domingo, 29 de julho de 2012

{Especial Cinquenta tons} No imaginario da mulher



*Este texto possui conteúdo sexual, que pode chocar as pessoas (dentre elas minha mãe, mas ela não passa por aqui mesmo), portanto se você não gosta de falar abertamente sobre o assunto, sinta-se a vontade para não ler.


 *Atenção Cinquenta tons de cinza é um livro para adultos, e seu conteúdo não é apropriado para menores de idade, e também para quem não curte livros eróticos sensuais.



Sábado, 21 de julho.

Acordei decidida a terminar de ler Fifty Shades Freed (Cinquenta tons de liberdade, Intrínseca), estou prolongando a leitura a semanas. Simplesmente não quero que a história acabe. Quero curtir um pouco mais de Mr. Grey e suas esquisitices. Mas já é hora de chegar ao fim e virar a página.
Vou até o supermercado fazer umas comprinhas (vulgo: salgadinho, refri e chocolate), disposta a voltar para casa logo. Estava na fila do caixa rápido, olho para o lado e de relance vejo algo estranho.
 
 
 Penso, mais que coisa! Pego a revista e vejo melhor o que está escrito. Não!!! Esta falando sobre Cinquenta tons de cinza. Será que finalmente saberei por que eu não consigo deixar de pensar nessa série, não consigo para de contar para todas as minhas amigas diversas passagens do livro, e ainda por cima desejar experimentar coisas novas?
Pensa, só tem uma pessoa na sua frente, estou curiosa! Não penso duas vezes e junto a revista com as minhas comprinhas. Sento no carro, jogo as compras no banco do carona, ligo a luz, rasgo o plástico. Folheio até chegar nas ultimas paginas, e lá esta ela. A matéria.
 Leio um paragrafo, ansiosa. Paro, olho para o lado. Melhor fechar a revista e ler em casa.

A matéria de capa da revista Época desta semana,é só um exemplo do que ocorreu, e do que continua ocorrendo lá fora. Revistas, sites, psicólogos, todos se perguntam, o que Cinquenta tons de cinza têm que conquistou o imaginário feminino mundial?

Vamos começar assim, Cinquenta tons de cinza é basicamente a história de uma jovem recém saída da universidade, que se envolve com um bilionário, rico e mais velho. Até ai tudo bem, teríamos basicamente uma história de amor. Só que não é isso o que acontece.

“Anastacia, I´m not a heart and flowers kind of man... I don´t do romance.”
Fifty shades of Grey, p.72

O que Christian oferece para a jovem e virgem Ana, é um relacionamento BDSM* (se é que podemos chamar isso de relacionamento), na qual ficaria acordado em contrato todas as especificações deste relacionamento. O que é basicamente, determinar que Christian é o Dominante e Ana será submissa a ele, cumprindo todas as regras que ele estabelecer, sendo que se ela violar qualquer das regras será punida conforme o desejo dele.


Esse relacionamento entre os dois é o que o livro traz de novo, e definitivamente é o que conquistou milhares de mulheres mundo afora. Apesar de existirem diversos livros com esse tema, poucos fizeram tanto sucesso entre os leitores, de forma tão aberta.
Mas muita calma, BDSM???? As mulheres estão se revelando? Nada disso, apesar de a proposta ser essa, as cenas de sexo nem chegam perto do que seria este tipo de relacionamento. Não são leves, mas também não há nada que assuste por demais (a não ser que você seja muito puritana).

“I've never had vanilla sex before {..}” Christian para Ana em Cinquenta tons de Cinza.
Para pessoas que vivem o estilo BDSM, vanilla (baunilha) sex é o clássico mamãe-papai. (haha)

Cinquenta tons de cinza, não só conseguiu o feito de se manter entre os livros mais vendidos do ano. E não só bateu recordes de venda. Mais do que isso, o grande trunfo de Cinquenta tons de Cinza não são as suas vendas, mas o fato de despertar o imaginário das mulheres de todas as idades para um tema que é tabu: sexo.

Sim, sexo ainda é tabu, apesar do mundo liberal que vivemos hoje. As pessoas pouco falam disso abertamente, muito menos ainda dos seus desejos pessoais. E a repressão dos desejos pessoais, principalmente das mulheres é algo que acabou se libertando entre as leitoras do livro. Por que não tentar fazer algo parecido com aquela cena? Para a personagem do livro foi extremamente bom, talvez eu deva tentar.

Todo mundo sabe o que é sexo, muita gente provavelmente já fez (rs), mas a maneira que o tema sexo é inserido no livro é diferente de tudo aquilo que já lemos. Diferentemente dos romances históricos em que apesar das cenas serem bem detalhadas, são extremamente normais, e dos chick-lit, na qual as relações sexuais apesar de também bem detalhadas, passa pelas pessoas como algo extremamente normal.
A maioria dos livros trata o sexo como ele realmente é, para boa parte de população. Mas Cinquenta tons de cinza tem o poder de trazer para as páginas do livro, um tipo de relacionamento que poucas pessoas se sujeitam, um tipo de relacionamento totalmente submisso, controlado por um homem extremamente complicado. E não só isso, E.L. James não tem medo de escrever cada cena, com detalhes precisos, nem que isso se desenvolva em mais de dez páginas de leitura.
Mas não só isso, o livro também mostra que as mulheres, que provavelmente se colocaram no lugar de Ana, estão dispostas a exigir algo diferente, que seja bom principalmente para elas.

E então fica a pergunta: Por que, mulheres bem resolvidas de vida, financeiramente e emocionalmente independentes não só apreciaram o livro, como trouxeram para a sua vida pessoal situações que ocorrem entre Christian e Ana?

Kirsten Stewart lendo Fifty Shades of Grey
Melhor do que isso, ao contrario do que se esperaria, as mulheres que mais gostaram do livro, não são aquelas da mesma faixa de idade que Ana (entre 20 e 25 anos, eu me encaixo nesse perfil), e sim as mais velhas, em sua maioria donas de casa.
O sucesso do livro entre o publico mais maduro, rendeu ao livro o titulo de “mommy porn”, aqui no Brasil, como a própria revista Época intitulou, “Um pornô para as mulheres”. O livro foi proibido em algumas cidades do Estados Unidos pelo seu conteúdo extremamente “adulto”, e a própria editora intitulou ele com o gênero “Erotic Romance”, para audiência matura.

Isso pode parecer um pouco exagerado, e na verdade pode acabar até assustando algumas pessoas, quando se pensa no livro como algo pornográfico, quando na verdade não é. E foi o que as milhares de leitoras foram percebendo, o livro não é pornográfico ao ponto de ser repugnante. Ele acabou por se mostrar o trunfo de libertação sexual das mulheres.

Explicar como o livro conquistou tantas pessoas, inclusive eu, é o mesmo que tentar explicar como funciona a mente feminina. Ou seja, algo nada fácil.

Muitas pessoas estranharam o livro ter caído no gosto das mulheres bem resolvidas de vida, pois a proposta oferecida a Ana no primeiro livro, vai totalmente contra os princípios que muitas feministas vem defendendo ao longo dos ano. O de liberdade para tomar as próprias decisões, a capacidade de ser independente e controlar a sua própria vida.
Mas você já percebeu que nós mulheres nunca estamos satisfeitas com nada? E exatamente neste ponto que acho que o livro ganhou o coração de muita gente. Ninguem aqui esta querendo voltar para os tempos em que os homens controlavam nossas vidas, em que eramos tratadas como meros utensílios. E na verdade a proposta do livro nem é essa.



O négocio esta bom, não é Selena?
Sinto que na verdade o que despertou a curiosidade de todas para aquilo que acontece nas páginas dos livros, foi o fato de se tornar claro que a mulher pode e deve exigir prazer de seu parceiro não importa de que forma isso venha. Uma espécie de “abra seus olhos sem preconceitos”, só porque o livro trata de BDSM, não quer dizer que você tenha que fazer isso. Mas ler e aprender que para a mulher ter prazer com um homem não basta fazer sexo, tem-se que unir todo o contexto para proporcionar aos dois a diversão de se estar junto na intimidade. A autora é extremamente detalhista em descrever quase todas as cenas de sexo entre os dois personagens principais (são 15 vezes, a Fanny contou neste post aqui), as cenas “pré consumação do ato”, duram diversas páginas, dando a leitora muitos detalhes para dar asas a imaginação e ficar morrendo de vontade de experimentar coisas novas, afinal a Ana não teve medo de arriscar, e quis conhecer coisas novas, atingir seus limites, se levar ao máximo.

As mulheres que acabaram por ler o livro, provavelmente devem ter sentido, que não há nada de errado em querer ter prazer, independente da forma como isso é feito, seja se submetendo as vontades do parceiro na cama, quanto o simples ato de incrementar seu dia-a-dia com algumas brincadeiras (ou brinquedos?). Ler tão abertamente no livro, não só cenas de sexo, mas o descobrimento ao longo de cada página do que que a mulher quer, ou deseja, na pele de Ana. Como ela, nós vamos entrando nesse mundo e experimentando coisas novas, e assumindo que as vezes o meio justifica o fim.




*Você sabe o que é BDSM?
Para matar a curiosidade de vocês.
“BDSM é um acrônimo para Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo. O BDSM tem o intuito de trazer prazer sexual através da troca erótica de poder, que pode ou não envolverdor, submissão, tortura psicológica, cócegas e outros meios. Por padrão, a prática é provocada pelo(a) Dominador(a) e sentida pelo(a) Submisso(a). Muitas das práticas BDSM são consideradas, num contexto de neutralidade ou não sexual, não agradáveis, indesejadas, ou desvantajosas. Por exemplo, ador, a prisão, a submissão e até mesmo as cócegas são, geralmente, infligidas nas pessoas contra sua vontade, provocando essas sensações desagradáveis. Contudo, no contexto BSDM, estas práticas são levadas a cabo com o consentimento mútuo entre os participantes, levando-os a desfrutarem mutuamente. O conceito fundamental sobre o qual o BDSM se apóia é que as práticas devem ser SSC (São, Seguro e Consensual). Atividades de BDSM não envolvem necessariamente a penetração mas, de forma geral, o BDSM é uma atividade erótica e as sessões geralmente são permeadas de sexo. O limite pessoal de cada um não deve ser ultrapassado, assim, para o fim de parar a sessão/prática, é utilizada a SAFEWORD (palavra de segurança)que é pré-estabelecida entre as partes.”


Um comentário:

  1. Estou surtando aqui lendo os posts,parece que eu estou lendo de novo Fifty Shades.
    Esse post foi o meu preferido até agora,até pq conta um pouco sobre BDSM e a reportagem da Época.

    Christian Grey <3

    bjs Nati

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